By Cora



E daquela janela se via tudo. As ondas, que limpavam as impurezas da areia negra. O vento, que rugia como um monstro místico, e que abanava as palmeiras como quem abana um lenço. Mas tudo aquilo me trazia paz, por incrível que pareça, a confusão trazia-me paz. Já me havia habituado, há 15 anos que vivenciava aquilo e de uma maneira que eu desconhecia até então, afastava-me dos meus próprios problemas. Tantos compromissos para quem nem a própria mente conhece. Mente esta cheia de dilemas, coisas pensadas e repensadas, que andam às voltas e não saem do sítio, e que me atormentavam e me ocupavam o pensamento todos os dias.

Mas um dia, acordei. Algo tinha mudado. Da minha janela, já não via aquele dia pesado, chuvoso e que tanto me acalmava. Um sol radiante havia invadido o meu quarto, deixando-o harmonioso e quente, tanto que até a minha gata se deitara no chão e adormecera. Mas aquilo não me acalmava, de certa forma deixava-me confusa e angustiada. Não conseguia perceber o porquê de um dia tão lindo perante mim, o que fizera eu para merecer aquilo? Não me conformava, não fazia sentido. E aí os meus prolemas haviam desaparecido, já que a única coisa em que eu conseguia focar a minha atenção era naquela dádiva. Foi então que, desde há muito tempo, desci as escadas, e questionei a minha mãe o porquê de um dia tão claro, sem agitação e barulho. De primeira a minha mãe não havia percebido a pergunta. Repeti. E aí ela respondeu que desde que a época quente começara, não tinha havido um dia como os meus. Fiquei estranhamente pensativa. Tudo o que se passara à minha frente havia sido altamente alterado e manipulado pela minha mente.

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